1983 — O ano em que fizemos contato
O começo da minha trajetória com computadores veio muito antes de qualquer ideia de “ter uma profissão”. Antes mesmo de saber o que era uma profissão. Estamos falando dos idos de 1983 ou 1984. Eu tinha uns 11 anos e morava na França, com a minha mãe e meu irmão. Foi lá que aconteceu o primeiro contato — e uso essa palavra com toda a carga sci-fi que ela merece.
Minha mãe fazia doutorado na Universidade de Paris, e um amigo dela, o Robert, trabalhava num laboratório de computação da mesma universidade. Às vezes, quando ela precisava de algumas horas de sossego (coisa rara para quem tem dois pré-adolescentes em casa), pedia pro Robert cuidar da gente por um tempo.
O “babysitting” acontecia no laboratório de computação onde ele trabalhava. Ele guardava lá os seus instrumentos musicais (flauta, teclado) e, enquanto ele tocava suas músicas, deixava meu irmão e eu brincar num dos computadores.
O computador devia ser bastante avançado para a época — tinha até um mouse de indução magnética, que funcionava sobre uma base plana. E a única coisa que a gente sabia fazer com esse computador era jogar um joguinho de asteroides.
A nave era um triângulo. A tela, o espaço infinito. E nós, dois moleques girando o mouse, tentando destruir pedacinhos de rocha digital antes que atingissem a nave. Quando acertávamos um asteroide, ele se partia em dois menores. E lá íamos nós, de novo, proteger a nave.
Esse foi o meu primeiro contato com um computador: um joguinho simples que foi o bastante para nos manter ocupados por horas. Olhando pra trás, talvez tenha sido uma oportunidade perdida de aprender mais sobre computação. O acesso era raro, quase um privilégio, mas na época eu não tinha nem compreensão da importância disso, nem alguém disposto a nos mostrar o que realmente havia por trás da tela. Era só uma forma de passar o tempo e deixar os adultos em paz.
Mais ou menos na mesma época, minha mãe ganhou de um colega brasileiro nosso primeiro videogame. Um console que só tinha um jogo: Pong. Dois traços brancos nas laterais da tela, uma “bola” quadrada no meio e dois irmãos decididos a provar quem era o melhor. O controle era uma rodinha: rodava prum lado pra barrinha subir e pro outro pra descer. O objetivo era não deixar a bolinha escapar pelo seu lado da tela.
Passávamos horas nisso. E, como quaisquer irmãos, brigamos muito também. Sempre tinha um cutucão ou alguém que ficava na frente da TV.